FRENTE BRASIL POPULAR > Imprensa > Artigos > TOMAR ÀS RUAS SEM ÓDIO E SEM MEDO

Fazem mais de 50 anos da ditadura militar, mas parece voltamos a vivê-la hoje. Os dias que seguem tem sido preenchidos pelas sensações de medo e insegurança generalizados.

Sabíamos que as manifestações no dia 13 de março seria um importante termômetro do que se avizinhava. Na semana anterior, os episódios de condução coercitiva e pedido de prisão preventiva de Lula foram o combustível para garantir a mobilização da classe média e elite indignadas sobre o futuro do país. É nítida que tais manifestações deflagraram nova ascensão dos setores médios e da elite nacional pró-impeachment.

O arranjo não é novo, mas se diferencia daquele que vivemos em 64. A força armada de agora é a Polícia Federal, vista como grande heroína nacional; os setores do ministério público e do judiciário utilizam o Estado de Direito para defender seus posicionamentos polítcos e ideológicos; rasga-se o que é previsto em Constituição Federal sob a falsa noção de égide; a massa ignorante, raivosa, vestida de verde e amarelo é orientada pela visão unilateral daqueles que no passado defenderam o Golpe Militar e que hoje o fazem novamente sem qualquer escrúpulo: a mídia monopolista.

Nos noticiários a complexidade do momento que atravessa o país é abordada com a superficialidade do bem X mal. E é óbvio que o que é transmitido nas TV's, é que os bons são os 'cidadãos de bem' que ocupam a Av. Paulista no domingo, pedindo o impeachment da Presidenta Dilma - eleita democraticamente -, o combate à corrupção e a prisão de Lula; e as pessoas más são os militantes de esquerda,  que vestem-se de vermelho, defendem Lula, Dilma, o estado democrático de direito e são radicalmente contra a qualquer tipo de golpe.

Tamanha irresponsabilidade na abordagem midiática tem tornado as ruas, ocupadas legitimamente por opiniões diversas, em uma arena de confronto violento, sangrento, cheio de ódio de classe. A violência fascista nos ronda e nos ataca em qualquer esquina.

Com a entrada de Lula no Governo Federal abriu-se uma nova arena de disputa nacional. À direita há acusações sem qualquer indício de provas; vazamentos de áudios sigilosos pelo Juiz Sérgio Moro; liminares que tentam impedir Lula de assumir o ministério da Casa Civil; um Congresso Nacional esfacelado, que deu início ao rito de impeachment da Presidenta Dilma por crime de responsabilidade fiscal; uma oposição golpista que é responsável pela instabilidade política que vive o país e não aceita a derrota nas urnas.

Há muito desespero e raiva desses que não estiveram no centro da estratégia democrática e popular dos últimos 13 anos. Sob o véu de combate à corrupção está o desejo de manutenção de seus privilégios e de retrocessos para a classe trabalhadora. Já não suportam mais a diminuição da desigualdade social, já não suportam ser obrigados por lei a pagar os direitos trabalhistas as trabalhadoras domésticas, e vê-las abandonar o serviço doméstico porque concluíram a universidade e vão disputar no mercado de trabalho, com eles da classe média, as vagas de empregos melhores, isso pra citar apenas um exemplo.

E à esquerda o que há?

Do lado de cá temos uma história atravessada de circunstâncias e fatos que nos mostra que a luta por direitos sociais no Brasil é uma luta banhada de sangue. Temos um passado escravocrata, base do desenvolvimento econômico no Brasil no período colonial, que durante mais de 400 anos escravizou o povo negro. Temos símbolos como Getúlio, Jango e Juscelino que tiveram suas trajetórias políticas destruídas pelo conservadorismo político-jurídico-midiático. Temos a experiência de mais de 20 anos de regime militar, onde não tinhamos direitos à liberdade de expressão e organização social, e onde aqueles que ousaram ser contrários ao regime foram perseguidos, torturados e mortos. Temos uma burguesia nacional que não mede esforços para manter 'os de baixo' no mesmo lugar e que querem acabar com a soberania nacional.

Temos a luta dos/das trabalhadores/as rurais pela reforma agrária popular. Temos a luta do movimento estudantil por uma educação emancipadora. Temos a luta das mulheres pelo direito de existir como mulheres. Temos a luta dos negros pelo direito a uma segurança pública que retire suas vidas. Temos a luta sindical na garantia dos direitos da grande massa traballhadora brasileira. Temos a luta por um SUS de todos.

Nós também  temos um projeto de país construído com muita luta!

Fruto destas e tantas outras lutas por direitos sociais nós conquistamos um projeto de país baseado no desenvolvimento econômico-social daqueles/as que nunca antes tiveram tantas oportunidades. Um projeto que apresenta hoje os limites naturais do empoderamento de classe dos/das trabalhadores/as. O que se quer já não são mais as mesmas coisas que se queria antes. A classe trabalhadora pressiona o Estado, para que os direitos conquistados sejam ampliados e alcancem mais e mais gente.

Em meio a vazamentos seletivos e criminosos de grampos telefônicos e delações, pedidos de prisão preventivas, liminares que visam impedir o desenvolvimento do governo, ataques as sedes de partidos políticos e organizações do movimento social e sindical, agressão e coação de militantes de esquerda, tentativas reiteradas de golpe de Estado pela mídia e pelo judiciário chegamos até aqui e não deixaremos que se repita o que aconteceu em 64. O momento é de extrema complexidade e pede de nós que sejamos capazes de fazer as reflexões necessárias, mas que tenhamos coragem para se levantar contra os absurdos.

É preciso, no entanto, termos a lucidez de não subestimarmos nossos adversários nessa arena de confronto político-ideológico. Se eles só possuem como único instrumento a violência para nos atacar e vociferam na TV todo o seu ódio, nós vamos disputar uma narrativa social de ideias, de sonhos e de mudanças, com a beleza de um projeto popular de sociedade em cada gueto de país.

Há muito por fazer. É preciso encarnar os milhares que doaram suas vida a luta e tombaram na defesa de um mundo mais justo, nossa jovem e ainda frágil democracia será fortalecida pelas mãos daqueles/as que sabem o quanto foi custoso conseguir retomá-la.

Nós temos às ruas! E vamos tomá-las sem ódio e sem medo de defender a democracia!