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Alunos da rede pública estadual dão aula de democracia e reivindicação popular

Ocupação da ALESP pressiona por CPI da Merenda

A educação pública no Brasil é uma das grandes lacunas administrativos dos governantes. Com descaso e menosprezo de alguns governos, o sistema educacional é tratado a cada ano e em todos os níveis (fundamental, médio e superior), com negligência, tendo resultados cada vez piores nas avalições mundiais de educação. São Paulo, um estado considerado como máquina propulsora da economia brasileira, é um dos maiores exemplos de um sistema falido, incompetente e ainda fraudado pelos responsáveis da área.

A cada ano a educação pública estadual paulista tem apresentado inúmeros problemas de contextualização educacional, estrutura de trabalho e, principalmente, falta de investimentos para a melhoria e atualização profissional dos responsáveis pelo ensino. Só nos dois últimos anos, o nível educacional público paulista tem ficado abaixo da média no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).  Essa qualificação tipifica o tratamento realizado pelo governo Geraldo Alckmin como um setor desestruturado, graças ao desenvolvimento de projetos terríveis para o ensino, promovendo entre as ações o fechamento de escolas, além de salários defasados em relação ao mercado.

Entre as desculpas esfarrapadas do governador paulista, está a tese da falta de recursos para serem investidos na educação. Mas como isso é possível ocorrer em um estado onde tem a maior arrecadação tributária do Brasil? Sem contar que em 2014 foi sancionado pela presidenta Dilma Rousseff o Plano Nacional de Educação (PNE) que tem entre as diretrizes repassar 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro à educação de forma progressiva até o décimo ano após a aprovação dessa medida.

Diante desse cenário alarmante para os nossos alunos, em 2015 Alckmin decidiu implementar no estado um projeto chamado reorganização das escolas públicas. Esse artifício foi realizado de forma autoritária e sem o debate com professores, pais, alunos e funcionários das escolas, com o objetivo de obter melhores resultados com a proposta. Isso também afetaria diretamente a vida de mais de 300 mil alunos e seus familiares que teriam, entre os problemas, se encaixarem em salas de aula ainda mais lotadas que o de costume. No entanto, com uma forte mobilização estudantil e um ato de ocupação de mais de 200 escolas estaduais, por meio do apoio de pais e professores, o governador decidiu anular o projeto sob intensa pressão pública.

A tal reorganização é apenas o cume de uma montanhosa gestão de desgoverno tucano ao ensino, que tem comprovado isso em outros estados brasileiros, como no Paraná e Goiás.

Já no final do ano passado os paulistas se depararam com uma nova tramoia dos tucanos, que foi o desvio de verbas da merenda escolar. Trata-se do “Cartel da Merenda”, um esquema que tem como articuladores ex-dirigentes da Cooperativa de Agricultura Orgânica Familiar (Coaf), lobistas, deputados, servidores públicos e secretários do governo Alckmin. Entre os envolvidos, o jurista Fernando Capez é um dos nomes fortes da prática fraudulenta, que é acusado de receber propina em relação ao desvio dessa verba pública. De acordo com as investigações, a máfia pode ter atingido mais de 150 cidades paulistas e causando prejuízos a milhares de micro agricultores.

Fernando Capez é um nome bastante conhecido na década de 90 por perseguir as torcidas organizadas em São Paulo, quando atuava como promotor de justiça, por meio do tema “violência nos estádios”. A ação é vista como uma autopromoção do jurista para conquistar o cargo de deputado estadual e, hoje, tornar-se presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Com a descoberta da máfia das merendas houve no estado uma onda de protestos, tendo como grandes apoiadores a torcida organizada corinthiana, Gaviões da Fiel. Mesmo assim, os deputados têm feito de tudo para anular os inquéritos e manter os fraudadores ilesos.

As orquestrações dos deputados estaduais para coibir a realização da CPI em relação à merenda, fez com que milhares de alunos, mais uma vez, tomassem medidas de protestos contra esse descaso e contra o estratagema de proteção aos envolvidos no caso, tendo como alvo principal o Geraldo Alckmin. Entre ações estudantis realizadas, a mais recente foi a ocupação da Alesp, onde o epicentro da sonegação e criminalização da educação tem sido tratado por políticos que estão unicamente preocupados em manter a fatia do bolo da propina. Além disso, por ser um dos principais alvos das investigações, Capez e seus familiares passaram a ter atitudes de puro autoritarismo e ditadura, por meio de ameaças às vítimas (alunos) e a jornalistas que tentam descobrir e questionar o desvio da verba pública.

No entanto, a ocupação da Alesp não é unicamente a falta de uma merenda de qualidade e o desvio do dinheiro público. Esses alunos, junto com seus pais e professores, querem uma mudança radical na educação pública, exigindo mais qualidade, melhores estruturas e acima de tudo a capacitação profissional dos envolvidos. É nessa hora que também vale levantar a tese de que há um certo número de professores acomodados com a situação atual e com uma mudança terão dificuldades de se manterem em seus cargos. Seria o fim do comodismo do funcionalismo público.

Mas, é claro que a qualidade do ensino não é unicamente a má vontade dos professores, que fazem o impossível para oferecer uma aula digna para seus alunos e, mesmo assim, não tem o reconhecimento do governo. Ser professor não é uma questão de meritocracia, mas sim um dom e a capacidade de transformar a visão de uma sociedade para melhores perspectivas de vida e buscas de novos desafios. Não dá para ser alguém sem a presença de um docente em nossas vidas.

Mesmo sob intensa repressão de um Estado fascista como do Alckmin, os alunos estão fazendo a sua parte e de forma exemplar. Trata-se de uma luta contra a hegemonia de um governo que há duas décadas vem deteriorando o ensino público paulista, por meio das inversões de valores e desrespeito aos envolvidos. A ocupação da Alesp, assim como ocorreu com as escolas estaduais no ano passado, é uma lição de cidadania, justiça e grito por melhores condições de aprendizado.

Sem coligação alguma partidária ou mesmo sindical, esses alunos estão mostrando o papel fundamental que um cidadão precisa ter perante a democracia. São atos simples, como exigindo justiça, qualidade e acima de tudo respeito, que se torna possível uma mudança no cotidiano dos infratores públicos. Como diz a música da banda Titãs: “Você tem fome de que? Porque a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte”. Junto a isso queremos melhores estruturas para o aprendizado, a prisão dos mafiosos da merenda e o fim desse governo deseducado. Não é pedir muito.