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Blocos promovem 'carnavato' em São Paulo

Folia em defesa da democracia ocorre um dia antes da votação na Câmara

“Arrastão dos blocos/ Nem um passo atrás / Folia da democracia / Golpe nunca mais”. Estes são os versos iniciais da marchinha que mais de 50 blocos participantes do carnaval de rua em São Paulo irão cantar em um 'carnavato' programado para o próximo sábado (16), dia anterior à votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados.

A concentração para atividade ocorre às 15h, na Praça do Patriarca, no centro da capital paulsita.

“Vai ser um bloco de todos os blocos, pela democracia”, explica Ramon Szermeta, do Ocupa que Eu Sou da Rua, bloco que desfila na madrugada do carnaval paulistano. Para Lira Alli, integrante da segunda geração do Vai Quem Qué, bloco fundado em 1981, o evento demonstra que o carnaval de rua, “feito pelos amigos e pela comunidade de forma desinteressada, tem lado”.

Folia e política

“Se você olha a história do Brasil, carnaval e política nunca se separaram. Quando a gente viu tudo que está acontecendo, pensamos: será que a gente, como bloco de rua que nasceu durante a ditadura, e que não quer voltar a viver tempos como aqueles, não tem que se posicionar? Estamos em um tempo no qual é fundamental que todo mundo se posicione”, comenta Alli.

Szermeta afirma que a ideia de articular os blocos para denunciar o golpe se relaciona com o histórico recente de retomada do carnaval de rua paulistano: “Os blocos são muito conscientes de que qualquer retrocesso no Brasil, no sentido de ideias mais conservadoras vingando, vai afetar a democratização e o uso do espaço público. Isso tem uma relação direta com a gente. Os blocos vão ser afetados. O carnaval de rua é democrático, não precisa pagar pra ir, todo mundo brinca. Esse resgate do carnaval de rua em São Paulo não poderia, agora, estar fora de cena ”.

Nesse sentido, Lira diz que a essência dos ataques à democracia fere o próprio espírito carnavalesco. “Quando você vê as manifestações da direita, é muito claro que eles não têm referência cultural nenhuma. Essa ofensiva conservadora vai muito em cima dos valores e dos ditos 'costumes'. É uma ofensiva que quer determinar qual é a família 'correta', como as pessoas devem se comportar, várias coisas a respeito da sexualidade. Esse golpe, além de atentar contra a democracia, também atenta contra nosso direito à folia”, critica.

Conservadorismo

“Historicamente, em sua grande maioria, os segmentos culturais no Brasil - não só os reconhecidos pela grande imprensa, mas também a cultura popular – sempre se colocoram do lado progressista, porque sabem o quanto é importante a democracia: para democratizar a mídia, o espaço público, para valorizar a cultura e a arte nacional”, explica Ramon. “No outro lado são os de sempre: os mesmos personagens com o discurso da intolerância. É a mesma luta que se arrasta no Brasil, de outra forma”.

Em relação às diferenças com aqueles que defendem o impeachment, Lira ressalta a presença da juventude nas manifestações em defesa da democracia. “[A direita promove] uma movimentação movida por muito ódio. Do nosso lado, existe muita gente mais velha que participou dos processos de construção da democracia no Brasil, mas existe também uma juventude que, por mais que não concorde 100% com o governo federal, apesar das críticas, sabe que é necessário defender a democracia”, diz.

Desfile

A articulação de blocos promoveu na semana passada um ensaio geral para o desfile de sábado. A adesão de novos grupos ainda é possível. “Estamos chamando todos músicos para levarem seus instrumentos para a Praça da Patriarca. Será um momento de integração”, convoca Ramon.

O aquecimento para o desfile ocorrerá até 16h20. Do ponto inicial, os blocos irão em cotejo até a Praça da República. No local, irão de Metrô -realizando um carnaval subterrâneo - até o Largo da Batata, onde já ocorre uma ocupação cultural. “Vamos encerrar com todos os músicos e ativistas que estão lá, já preparando para o domingo”, afirma o integrante do Me Ocupa que Sou da Rua. “Vai ser um grande carnaval democrático contra o golpe em curso no Brasil”, promete ele.

 

Leia abaixo o manifesto dos blocos de carnaval de rua paulistanos em defesa da democracia:

 

Arrastão dos Blocos

 

Nós Blocos de carnaval

estamos sendo arrastados

pela história

que nos traz às ruas neste carnavato.

 

Somos o Arrastão dos Blocos

defendendo a democracia

que nos permite festejar

e ocupar as ruas

Queremos um Brasil

com mais liberdade

com reforma agrária

com mídia democrática

 

aliás

#2018semconcessão

#foraglobogolpista

sem polícia militar

sem judiciário mercenário

sem congresso obscuro

sem governo do acordão

 

Queremos um Brasil

que assegure a livre existência

das mulheres

das índigenas

das gay

das sapas

das bis

das trans e travestis

e da juventude negra da quebrada

 

Por isso

estamos aqui hoje

sem ódio

em contradições

para carnavalizar,

desmoralizar e escandalizar

a família, a tradição e a propriedade

 

Viemos fantasiadas

purpurinadas

cheias de tesão

fazendo política com o carnaval

e lutando pelos nossos corpos livres.

 

Nossos estandartes estão erguidos

para ocupar as ruas e as mentes pela democracia

Não vai ter golpe

E se tiver? Revolução.