Rock contra o golpe
Artistas se engajam na luta contra o golpe

Durante as comemorações do Dia do Trabalhador, os músicos Tico Santa Cruz (Detonautas) e Edgard Scandurra (IRA!) avaliam a situação política brasileira com preocupações quanto ao retrocesso de direito
O Dia do Trabalhador deste ano foi uma data que não houve apenas comemorações e homenagens. Também ocorreram inúmeros protestos em todo o Brasil contra as ações golpistas dos políticos da oposição do governo federal, que estão articulando para tirar a presidente Dilma Rousseff. Nesta data, a cidade de São Paulo, além de presenciar o grito do povo nas ruas, recebeu no Vale do Anhangabaú o show de vários gêneros musicais, tornando-se responsáveis por ampliar ainda mais a voz da nação brasileira contra o que essa ofensiva desleal à nossa democracia.
Entre os músicos participantes, conversamos com Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas, e com o guitarrista do IRA! e Pequeno Cidadão, Edgard Scandurra. Conhecidos como dois engajados políticos e representantes do rock nacional, os artistas abordaram questões emblemáticas como medo em relação ao futuro do país, anseios sobre o destino da presidenta Dilma e até momentos de sentimento de revolta quanto ao reverso que poderá acontecer quanto ao fim do desenvolvimento social no país.
Confira o vídeo de entrevista na íntegra Tico Santa Cruz (https://www.facebook.com/imprensacutsp/videos/1002384656516754/) e Edgard Scandurra (https://www.facebook.com/FrenteBrasilPopular/videos/1775628999326558/)
Esse gênero musical que tem em seu DNA a quebra de barreiras e as contrapropostas aos ideais conservadores, o rock soltou a sua voz no Dia do Trabalho em alto e bom som na capital paulista. Assim com avalia Scandurra, em toda a sua história social a arte sempre teve um papel importante na conscientização das pessoas e na cobrança das autoridades por melhores condições de vida. “Eu e outros que passamos pela transição da ditadura para a democracia e vimos muitos músicos sofrerem na época, não podemos permitir esse retrocesso no país. Precisamos utilizar o poder que temos com o microfone à mão para conscientizar o nosso público, porque o que está em perigo não é a perda do poder, mas a democracia” enfatiza.
Com uma atuação política bastante engajada tanto pessoalmente como pelas redes sociais, o cantor Tico Santa Cruz tem se deparado com inúmeros gestos de intolerância e ódio contra suas argumentações contrárias ao que tem acontecido no cenário político brasileiro. Para o músico, essas manifestações trazem muita preocupação para o futuro da sociedade, que tem apresentado manifestações de preconceito, xenofobia, homofobia e tantas outras intolerâncias. “Avançamos tanto nos últimos anos e não é possível darmos esses passos para trás. É triste ver pessoas apoiando gente como Bolsonaro, que é explicitamente preconceituoso e contra uma igualdade social. Sofremos tanto para chegarmos onde estamos e agora parece que alguns pretendem jogar essas conquistas pelo esgoto”, avalia.
Além dos roqueiros, centenas de artistas brasileiros resolveram “dar a cara à tapa” contra a tentativa de derrubada da presidenta Dilma do governo. Pessoas como os músicos Chico Buarque de Holanda, Chico César e Bete Carvalho, o diretor de cinema Jorge Furtado e o de teatro Zé Celso, além de atores como Wagner Moura, Gregório Duvivier, Paulo Beti e José de Abreu se uniram para ampliar a voz do povo das ruas e lutar pelo respeito ao voto.
Infelizmente, junto com o crescimento artístico pela defesa da democracia, os casos de violência e intolerância também tem aumentado contra eles. Recentemente alguns artistas passara a sofrer ofensas tanto pelas redes sociais quanto pessoalmente por pessoas que defendem com veemência o impeachment e a volta de alguns sistemas antissociais, como o fim do bolsa-família, a ampliação da desigualdade e o fim das cotas para negros. “Essas pessoas têm ódio da igualdade e querem preservar a concentração de renda no país”, relata Santa Cruz.
“As reivindicações dos artistas não são para aquelas pessoas que querem ver um show internacional, ir ao teatro, assistir um filme no cinema ou estudar em uma faculdade particular e longe das pessoas desfavorecidas. O artista tem que estar ao lado do povo e realizar manifestações com focos em questões sociais. Esse é o nosso papel como artista junto com a esquerda brasileira”, afirma Scandurra.